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[AL] Sinteal aposta na luta antirracista

Publicado: 21 Novembro, 2025 - 11h04

Escrito por: SINTEAL | Editado por: SINTEAL

Foto: Sinteal
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O Dia da Consciência Negra marca a luta histórica pelo fim do racismo no Brasil, numa data que aluz à morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, principal quilombo do Brasil. A luta antirracista é tarefa central para construção de uma sociedade mais fraterna e igualitária e o Sinteal jamais se negou a abraçá-la. A retomada do Coletivo de Combate ao Racismo Antônio Herculano do Sinteal, criado em 2011, espelha a urgência de encabeçar a luta antirracista nas escolas.

O impacto da violência cotidiana sobre estudantes e trabalhadoras/es e o avanço de discursos discriminatórios tornam evidente ser necessária uma agenda viva de combate ao racismo.

No mês que celebramos o Dia da Consciência Negra, o portal do Sinteal traz a visão de Izael Ribeiro, presidente do Sindicato, e de Marluce Remígio, Secretária de Políticas Sociais, sobre os desafios de superar o racismo, seja no local de trabalho ou na sociedade com um todo, e até mesmo no movimento sindical.

O Sinteal retomou o Coletivo de Combate ao Racismo. Por que sentiram essa necessidade?

Marluce – O coletivo foi criado em 2011 e estava desativado. Agora, a gente sentiu a necessidade por conta de várias questões de organização da nossa luta. Os casos de racismo estão dentro das escolas com mais ênfase. São muitas denúncias e a gente precisava, realmente, avançar nesse sentido. E quando se trata de Alagoas, onde 70% da população são pessoas negras, há necessidade urgente de combater o racismo, tanto dentro das escolas, nos ambientes de trabalho, em toda a sociedade.

Izael – O racismo não é um ato individual, é um sistema que está estruturado em nossa sociedade. Na escola, afeta currículos, formas de lidar com as pessoas, e existia uma urgência, uma necessidade de retomar essa pauta para formar os trabalhadores e trabalhadoras numa perspectiva antirracista. A partir daí, nós pensamos num modelo de formação voltado, primeiramente, aos negros e negras do Sinteal. E a partir desses negros e negras, nós pudemos expandir para toda a categoria, para toda a base. A volta do Coletivo parte desse pressuposto, do enfrentamento urgente ao racismo, sobretudo, no período pós-golpe, do bolsonarismo, onde parece que tudo de ruim saiu pela porta do armário e os ataques racistas se intensificaram de forma mais aberta nas redes, nas ruas. Então, podemos dizer que a volta do Coletivo foi um ato emergencial.

O racismo no Brasil é estrutural, mas no ambiente escolar – e no serviço público como um todo – ele se reproduz da mesma maneira e intensidade que na sociedade em geral?

Izael – Nós temos uma população de cerca de 70% de negros e negras e que, de fato, carecem de uma formação. A Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira, completou 21 anos agora, mas sua eficácia não se deu da forma esperada. Por isso, agora se tenta uma nova política. Mas o racismo que ocorre, especificamente, nas unidades de ensino, é uma reprodução do que acontece no cotidiano, fora das escolas. A gente tem a população nossa que é da periferia, que é das grotas, dos bairros que sofrem diversas violências. Tudo isso acaba sendo reproduzido dentro do universo escolar, não é diferente. Às vezes as pessoas perguntam se a escola não está sendo blindada, existe essa percepção. Mas não, o que acontece com violência na escola é que se reproduz na sociedade. Por isso, a necessidade de fazer esse combate ao racismo, esse enfrentamento, a partir das escolas porque nossa sociedade está da forma que está. E não é colocando um muro, não é blindando, que a gente vai enfrentar esse processo, mas, sim, através de uma dinâmica educacional que promova, de fato, um conhecimento e uma reparação histórica de todos esses prejuízos, tanto a funcionários quanto a estudantes.

Marluce – Temos uma política nacional, que é a Pneerq [Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola]. Ela foi instituída em maio de 2024 e é mais um instrumento de combate ao racismo. Aqui em Alagoas, a gente tem vários municípios que estão fazendo esse trabalho dentro das suas escolas e a gente está avançando, já vemos um crescimento das escolas trabalhando essa temática através da Pneerq, num reforço da Lei 10.639. E é muito importante que nossas escolas executem essa política. Veja, o racismo define lugares para corpos negros. Somos, automaticamente, associados ao trabalho de servidão, nunca ao prestígio ou à intelectualidade. Então, quando a gente naturaliza essa lógica, negamos às pessoas negras o direito de existir plenamente. É preciso que nós entendamos que o racismo tenta apagar até a nossa beleza e a nossa potência. É preciso ter a reparação histórica e a reparação emocional. E é daí que nasce o letramento racial. No momento em que esse letramento está sendo divulgado, trabalhado, a gente começa a ficar mais fortalecido. E aí a escola, a mídia, o trabalho, tudo vai dizendo para gente que beleza, sucesso e valor têm cor, mas nunca é a nossa. Mas quando a gente tenta se afirmar, quando começa a dizer ‘eu sou linda’, ‘eu sou potente’, vem logo o rótulo de metida, que ‘negra metida a besta’. A gente escuta muito isso, quando está num espaço de intelectualidade. É como se a gente não tivesse o direito de estar ali também. Por isso, falar em letramento racial é estudar, mas também se cuidar e se entender.

Ser dirigente sindical no Brasil – e em Alagoas – não é tarefa das mais fáceis, entre outros aspectos, porque nunca superamos a cultura escravagista nas relações de trabalho. E ser dirigente sindical negro, que camadas surgem nesse desafio?

Izael – Primeiro, preciso destacar que a gente é fruto da política que deu certo. Pelo menos quando eu entrei na universidade, foi no início da política de cotas raciais. Existiam poucos negros e negros na universidade. E foi essa política de cotas que possibilitou ao negro ter acesso ao ensino superior e ao serviço público através de concurso. E posteriormente, dar continuidade a essa luta através de movimento sindical, vem a responsabilidade da representatividade. Nós somos poucos ainda, inclusive no movimento sindical da educação, e isso dobra a responsabilidade porque se tiver uma falha, um erro, já era, acabou. A cobrança é muito maior. A gente entende o peso da responsabilidade da representatividade, que a gente quer abrir a porta para que outras pessoas possam ocupar esses espaços, que venham mulheres negras, que outros homens negros possam acessar esse espaço. A gente sabe que em alguns locais que a gente anda, as pessoas ainda não nos reconhecem, não conseguem reconhecer um negro num espaço de poder. Existe todo um estigma quando olham para mim, um negro com cabelo com tranças, por exemplo, por causa de uma padronização imposta. Agora, eu já consigo me afirmar, mas antes era bem mais difícil. Temos que lutar contra essa padronização, temos que ser livres para cultuar as nossas crenças ou falar que a gente pensa nesse papel como dirigente sindical.

Marluce – Penso que é sobre o que apontei anteriormente, de o racismo definir lugares e dizer para negras e negros que nosso lugar não é o de espaços de poder, mesmo que seja à frente de um sindicato. Izael acabou de destacar a política de cotas, que é uma ação voltada a reparar injustiças históricas e raciais, embora o progresso da promoção da igualdade seja lento. A educação tem um papel central no combate às desigualdades etnicorraciais e ao racismo estrutural, sendo fundamental a adoção de uma abordagem que valorize a diversidade cultural e promova o respeito a diversas culturas e às identidades etnicorraciais.