Desigualdade educacional ampliada na pandemia é tema do documentário “Desconectados”
Filme retrata desafios de famílias brasileiras do fechamento ao retorno à escola
Publicado: 22 Agosto, 2022 - 19h29
Escrito por: CNTE
Imagem do Trailer/ Divulgação - Folha de S.Paulo
Na pandemia da Covid-19, milhões de alunos e alunas das escolas públicas ficaram sem aulas em torno de 300 dias, equivalente a um ano letivo e meio, e com isso a desigualdade educacional no Brasil cresceu. O documentário “Desconectados”, com pré-estreia agendada para esta semana, mostra histórias de como foi viver este isolamento nas vozes dos que viveram na pele o que milhares de outras famílias passaram durante a crise sanitária.
O filme, que foi produzido em parceria com o Instituto República e o Jornal Folha de S.Paulo, foi dirigido pela cineasta Ana Graziela Aguiar, e pelos jornalistas da Folha, Pedro Ladeira e Paulo Saldaña. Segundo matéria na Folha, “Desconectados” tem pré-estreia no Espaço Itaú de Cinema: no dia 22 de agosto, em São Paulo, e no dia 24 deste mesmo mês, em Brasília. As exibições, às 20h, serão gratuitas, com ingressos distribuídos nos locais com uma hora de antecedência.
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A reportagem da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) produziu uma entrevista especial com a cineasta Ana Graziela Aguiar, uma das diretoras do ``Desconectados”. Sobre o nome do filme, ela diz que foi para retratar como foram os desafios de milhares de famílias para que estudantes pudessem continuar com seus estudos, do fechamento e ao retorno à escola.
“Mesmo nos grandes centros havia uma imensidão de realidades diferentes. Muitas crianças e adolescentes não tinham conexão com a internet ou tinham baixa qualidade de conexão. Os desafios para que elas e eles continuassem estudando, em situações muitas vezes precárias, foi imenso. Por isso o nome é Desconectados”, explicou a cineasta.
O filme tem o objetivo de mostrar como a pandemia atingiu de forma diferente os/as estudantes, e para que o público, de forma geral, através de histórias reais, reflitam sobre os impactos desta ampliação da desigualdade para o futuro da educação. Além disso, o documentário mostra também os impactos emocionais na comunidade educacional durante a pandemia.
“A partir do momento em que os números viram histórias e ganham a tela, talvez exista uma sensibilização maior sobre o tema. E a partir dessa sensibilização, quem sabe o poder público tente buscar saídas para um problema que já está posto. Como lidar com o déficit educacional e emocional causado nos estudantes pela pandemia?”, destaca.
Perguntada sobre o papel das trabalhadoras e dos trabalhadores da educação sobre esta questão, a cineasta disse que elas/eles foram incansáveis e responsáveis por fazer muitos estudantes a não desistirem de estudar.
“Elaboraram planos de aula, criaram linguagens para tentar incentivar o estudo, lembrando que muitos professores e professoras tinham pouca ou nenhuma familiaridade com ferramentas digitais. Apesar disso, muitos trabalhadores e trabalhadoras da educação fizeram o que podiam para que a escola não parasse de funcionar”, contou Ana.
Impactos da pandemia na educação
De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Datafolha, em janeiro, 4 milhões de estudantes abandonaram a escola durante a pandemia. As principais motivações foram a dificuldade do acesso remoto às aulas e problemas financeiros, em que os alunos que lideraram a taxa de abandono pertenciam às classes D e E. Um em cada quatro brasileiros não têm acesso à internet, representando cerca de 46 milhões de pessoas, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC), de 2018.
A cineasta fala que no documentário, por exemplo, tem a atuação de uma diretora de escola, Socorro, que ia atrás dos estudantes para entregar as atividades educacionais impressas na zona rural do Distrito Federal, onde a internet é praticamente inexistente.
“Pudemos acompanhar e registrar toda a dedicação dela e sua angústia diária. E pode ter certeza que existiram várias Socorros espalhadas por todas as partes do Brasil, que durante a pandemia fizeram o possível e o impossível para levar educação para crianças e adolescentes”, destaca Ana, que complementa: “Acredito que o nosso documentário apresenta o problema, a partir de depoimentos, e aponta para possíveis soluções. Queremos mostrar que a discussão dos impactos da pandemia sobre a educação é urgente e precisa começar a ser discutida hoje. Ou os impactos futuros serão ainda mais desastrosos não só para os estudantes, mas para a sociedade como um todo”.
Como sair desta
A diretora executiva do instituto República, Helena Wajnman Lima, disse para a Folha que é muito importante reconhecer e valorizar as trajetórias desses profissionais públicos para combater a desigualdade. “Acreditamos que o serviço público competente, valorizado e respeitado é muito importante para o Brasil se recuperar das consequências negativas que a pandemia nos trouxe e caminhar para a redução de desigualdades".