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Escola em Tempo Integral pode reparar atrasos e promover letramento afetivo, dizem pesquisadores

Ciclo de Seminários sobre escola em tempo integral acontece nas cinco regiões do Brasil; saiba como participar 

Publicado: 02 Agosto, 2023 - 17h18

Escrito por: CNTE

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Nesta terça-feira (1), especialistas debateram os desafios e as oportunidades da ampliação da jornada escolar nas escolas públicas brasileiras, durante a abertura de um ciclo de seminários sobre o Programa de Escola em Tempo Integral. 

O evento, realizado pelo Ministério da Educação e transmitido pela internet, aconteceu um dia após o presidente Lula sancionar a lei do Programa Escola em Tempo Integral, que prevê R$ 4 bilhões de investimento para ampliar em 1 milhão o número de matrículas de tempo integral nas escolas de educação básica em 2023. 

Na conferência “Passado, Presente e Futuro da Educação Integral no Brasil”, a secretária de Educação Básica do MEC,  Kátia Schweickardt, e o diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Integral Básica do Ministério da Educação, Alexsandro Santos, mediaram uma conversa com Pilar Lacerda, pesquisadora associada da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), e Renato Noguera, doutor em Filosofia e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Para Kátia, o aumento da jornada escolar desencadeia ganhos sociais importantes como a segurança e a inserção do aluno em uma rede de proteção na comunidade. “Todo o investimento que é feito na escola de tempo integral traz ganhos de até 6 vezes mais [do que é investido]  para a sociedade”, afirmou. 

Ao citar o livro “O Ponto A que Chegamos: 200 Anos de Atraso Educacional e seu Impacto no Presente”, de Antonio Gois, Pilar Lacerda lembra que o modelo de educação pública brasileira sempre foi excludente. 

"Existe uma mentalidade de que a escola não é para todo mundo. A reprovação é considerada um método de aprendizagem quando, na verdade, é a forma mais perversa de excluir, principalmente, as crianças pobres, as negras e as da periferia do sistema escolar”, lamentou, pontuando que, no Brasil, ainda existem 40 milhões de adultos com "baixíssima" escolaridade. 

"Não porque eles não quiseram estudar, mas porque não foi dado o direito e nem o estado brasileiro se preocupou em garantir que eles tivessem, no mínimo, oito anos de escolaridade. Então, a gente tem uma dívida histórica", explicou.  

É nesse contexto em que a escola de tempo integral entra para reparar este atraso, citou Pilar. “A concepção de Educação Integral é concebida como espaço de produção de conhecimento, pesquisa, construção de valores, participação coletiva e desenvolvimento da autonomia de alunos e profissionais, refletida em um currículo de, no mínimo, 7 horas diárias”. 

Pilar lembra também que a escola integral deve ser comprometida com a garantia de “aprendizagens significativas” e promover conexões com a saúde, o esporte e a cultura, por exemplo.

Letramento afetivo

Já Renato apresentou o conceito de “letramento afetivo”, contrapondo ao ensino tradicional das escolas voltado para a competição. 

"A escola ensina a gente a ser selecionado, a ser capaz de chegar a um lugar a que nem todos conseguem chegar. Algumas sociedades estão dizendo que tem lugar para todo mundo e a educação em tempo integral é uma oportunidade para isso: um ambiente em que possamos compartilhar mais”, defendeu. 

"Precisamos de uma educação que reconheça o direito a todas as pessoas ao reconhecimento, e que as pessoas tenham um espaço de segurança psicológica”, concluiu Renato, que também é coordenador do Grupo de Pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Infâncias (Afrosin).

Para Alexsandro, do MEC, na escola de tempo integral, os papeis de alunos e professor deixam de estar marcados por uma hierarquia absoluta. "A educação integral tem o poder de enfrentar a cosmofobia”, falou. 

Ciclo de Seminários

Segundo o MEC, os  seminários vão discutir e elaborar orientações para a educação integral em tempo integral na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. 

"Além disso, também serão consideradas as especificidades e transversalidade  das modalidades especiais: educação especial na perspectiva da educação inclusiva, educação bilíngue de surdos, educação do campo, educação escolar indígena e educação escolar quilombola”, informa a página do MEC.

Confira, a seguir, as datas dos próximos seminários, que acontecem nas cinco regiões do Brasil. Clique aqui para acessar a a programação completa.

  • • Região Centro-Oeste - Cuiabá (MT) - 3 e 4 de agosto;  
  • • Região Norte - Belém (PA) - 23 e 24 de agosto;   
  • • Região Nordeste - Recife (PE) - 13 e 14 de setembro;   
  • • Região Sul - Porto Alegre (RS) - 27 e 28 de setembro;  
  • • Região Sudeste - Diadema (SP) - 4 e 5 de outubro.   

Um documento nacional com princípios e orientações sobre educação integral será consolidado considerando os debates realizados nos ciclos de seminário.